Textos em Prosa


Aqui você encontrará alguns dos meus textos, artigos e reflexões.
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PARA AS MÃES QUE ESTÃO INTERNADAS OU ASILADAS

(E O S F I L H O S Q U E N Ã O A S V I S I T A M)


Este ano estava propenso a não escrever na sobre o dia das Mães, por conta dessas cantilenas demagógicas que ouvimos e lemos muito no dia de hoje.Depois mudei de ideia e vasculhei meu modesto arquivo e encontrei um conto publicado em A Província do Pará, em 1975 e posteriormente (2007) no Livro Quaterno, orelhado pelo amigo Lúcio Flávio e prefaciado por Alfredo Garcia Como é um texto de duas páginas, muitos como eu que não gosto de ler textos longos virtuais, não lerão. Mas os que gostam de literatura, por certo lerão.


U M D O MI N G O S E M V I S I T A S.

Privilegiado por uma invejável condição física, o homem poderia ser enquadrado no jargão "saúde de ferro". Em um domingo se deu conta de que esta em um leito de hospital, contabilizando quarenta anos e quarta internação, felizmente sem gravidade.

Tinha irmãos, muitos amigos. Não chegava a ser um Dom Juan, mas havia uma legião de ninfetas a assediá-lo constantemente. mesmo assim, repetia para si mesmo, com os olhos fixo ao teto:

-- "Passar um domingo confinado em um leito de hospital a contar o monótono tiquetaquear do relógio que se arrastam como em um cortejo sepulcral, é triste. Principalmente sem visitas".

Não se envaidecia de ser benquisto na família, no trabalho e no seu meio social.Sem falsa modéstia, achava natural as referências a seu respeito, por ter consciência de que seus gestos de solidariedade e outros, eram sempre espontâneos.Achava difícil, entretanto, discernir nos outros quando faziam ou davam tudo de si sem nada querer em retribuição.Porém, não ousava julgá-los, por entender que cada um deve agir de acordo com a sua consciência e possibilidades.

Era a quarta vez que se submetia a um internamento hospitalar.. A primeira vez muito jovem, longe da família e seu amigos,não sentiu muito em termos de solidão, porque estava alicerçado na força da sua ignorância juvenil.Só tinha uma certeza: se sua mãe estivesse naquela cidade, uma visita não lhe faltaria. Na segunda vez em que esteve hospitalizado, era um homem mais vivido e com opinião formada a respeito do mundo e de muitas coisas concernentes à vida. Frequentava clubes, associações e desfrutava de um bom nível de relacionamento social, pois entre outras coisas, que o homem é um animal eminentemente político.e social. Naquela época, tinha duas namorava que o visitavam em dias alternada. Um certo dia as duas se encontraram no mesmo horário em volta do mesmo leito de um paciente passando muito mal por não ter como explicar aquela situação constrangedora. à partir daí, não houve mais visitas de nenhuma.

Na terceira vez, idem idem...

Na quarta internação, em Belém, contava com a presença incansável da mãe,trazendo sempre apoio psicológico, um caramelo, uma fruta ou um quê qualquer, pois ela sabia que, naquele momento, as pequenas coisas e gestos representariam mais que um presentão de valor material. Naquela ocasião ele tinha uma namorada que o visitava para resolver uma divergência. Terminada a divergência, terminou o namoro, terminaram as visitas.

Era um domingo, dia de visita geral. A chuva da tarde se estendia, sem dar sinal de trégua. Os pingos no telhado soavam aos seus ouvidos como uma dolorosa sinfonia, somados ao gemidos e gritos dos decrépitos agonizantes

O horário de visitas estava se esgotando. Andando de um lado para o outro da enfermaria, começou a fazer conjecturas. "Quem virá visitar-me? Ah! Os amigos geralmente passam o final de semana em Salinas ou outros balneários; há os que preferem a família, o futebol, a cerveja, o motel ou a simples lombeira.".

Enquanto a chuva caia intensamente, chegou ao janelão frontal e divisou a tenra figura de sua mãe, sob a áurea dos seus sessenta anos, a cruzar as águas com certa naturalidade. Sua expressão só traduzia a ansiedade por dar e receber aquele caloroso abraço que aquece o sangue por ser movido pelo mais sublime calor humano: o caloroso Amor \materno.

Obrigado, mãe!Lamento não poder retribuir à altura, porque tudo o que um filho possa fazer pela mãe será ínfimo para compensar o que deve. Sei que se eu caísse em mil infortúnio, em todos eu teria o teu acalentar. O brigado, Mãe!...Como hoje é o dia universal de todas as mães.minhas homenagens à todas as mulheres que têm a ventura de serem iguis a TI;

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                                   INSTITUTO CHICO MENDES
               
O Instituto Chico Mendes fundado em 17/06/2006 por Elenira Mendes, filha do Líder Sindical Seringueiro Chico Mendes, é uma prova de resistência em defesa dos ideais de amor à natureza através do desenvolvimento sustentável, pelo qual Chico Mendes foi assassinado. O Instituto que é conhecido e respeitado no mundo inteiro, sofreu ameaça de ser fechado por ter sido homologado através de Medida Provisória. Felizmente o governo recuou para evitar uma crise institucional, visto que, há centenas de leis originadas de Medidas Provisórias.                                         Graças à grande imprensa responsável, os fatos mais relevantes da nossa história não são facilmente esquecidos, como muitos gostariam.
            A Revista globo Rural de dezembro de 2008, relembra os 20 anos da morte do
Seringueiro Líder sindical Chico Mendes, assassinado dia 22 de dezembro de 1988.
             Seus ideais quando serão alcançados? No meu entendimento, nunca. Os ideais de Chico Mendes assim como o de Jesus Cristo, jamais serão alcançados integralmente, enquanto o homem for o lobo do próprio homem e o poder econômico falarem mais alto. Enquanto isso devemos nos contentar com medidas paliativas dos governos estadual e federal que instalaram a fabrica de preservativos Natex em Xapuri, contra a vontade da Igreja retrógrada.
            A realidade do momento onde é quase impossível conter o avanço desenfreado da destruição das florestas pode ser confundida com pessimismo e tem forte oposição dos poetas e religiosos de boa fé. Só os poetas são capazes de pregar aquilo que nem eles mesmos creem ser possível consolidar: a vitória do bem sobre o mal; compatibilizar a harmonia do homem moderno com a natureza selvagem.
            ESPERANÇA VESTIDA DE VERDE é um texto do poeta e escritor Rufino Almeida, publicado em 1988 na Revista da Associação Paraense de Escritores, em solidariedade às famílias dos seringueiros órfãos do mais importante líder sindical, defensor da Amazônia Legal. Com a aquiescência do autor, reproduzimos seu texto que hoje está publicado no livro QUATERNO, Editora Paka-Tatu 2007, Belém, PA.
                Abrem-se as cortinas dos sonhos de “PROGRESSO”!  Sangra o verde avassalado pulmão terráqueo. Escravos da esperança amazônica proclamam o combate com fé rogando proteção para o oásis cobiçado. Cérebros multinacionais comandam a vândala orgia, orquestrada pela estridente poluição sonora movida a a petróleo.
                Para a pilhagem subsolo abaixo, monstruosos formigueiros formados por homens esquálidos e descaracterizados abastecem mãos ávidas que se apossam do aborto, provocando a violência nas entranhas terrestres.
                Tal um ritual cancã, as frenéticas lavagens de cascalhos tingem os rios impondo o silencio em seus leitos. Homens, pássaros e peixes se fundem no mesmo processo de extinção.
                Ao poder não interessa mais essas espécies, nem seringueiros e seringais, porque a borracha deixou de ser o ouro branco do Brasil. Serve apenas para garantir a sobrevivência do caboclo marginalizado.
                A preferência é a pecuária, a madeira e o próprio ouro da “selva pelada”, que enche cofres além-fronteira com garantia de inviolável sigilo, livre da malha fina do “leão” conivente.
                A fome desperta a consciência nativa adormecida pela eterna mordaça do subdesenvolvimento feudo-colonial. Eclode um grito no meio do resto da selva agonizante ferindo frontalmente interesses bilaterais. Guardiões da tirania                                                                                                                                                                                                                      se agitam e calam para sempre a mais importante voz do foco da resistência pacifica, porque querem impor o silêncio alienado proporcional ao tamanho da selva. Outras tantas vozes se calam em pleno exercício da denuncia!
           A noite murmura! Consciências em comunhão choram a desgraça consumada sem interromper a marcha sob o fumígeno anoitecer das queimadas.
           Um coro se abre em diapasão e se transforma em protesto universal. Holocausto! Apocalipse!... Sob o caos nocivo, descortina-se uma janela no horizonte, de onde surge o vate regendo o verbo resistir. Amanhece, sob a forma de noite! Amanhece a esperança multiplicada e vestida de verde Amazônico.
Belém, Belém,PA, 2007


 (Do Livro SINCRÔNICAS, EDITORA SANTmel, BELÉM, PA, 2013) 

                 

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                              OUSADA PRETENSÃO.
               
É impossível acompanhar contemplado pacificamente a monotonia do tempo a passar, esperando acontecer o óbvio. Levo preso na retina o mapa do meu destino a nortear meus limites, funil geral de chegada. Que me importa a cronologia dos mutáveis calendários se nada sei do passado e não chegarei ao futuro? eu quero é o presente para galopar na realidade palpável que me faz personagem deste instante.
               No peito não cabe o silêncio solitário dos picadeiros vazios. Prefiro o ruído infernal que me afronta, atormenta, mas me impele ao combate, a essa luta desigual. Não quero a solidariedade enfeitada de flores, molhada de lágrimas. Que venha o bombardeio do verbo contestatório para que eu possa me consolidar como artesão da minha própria história. 
               Apesar da escuridão ofuscando o céu do meu trajeto, insisto em abrir caminhos para chegar não sei aonde.... Ah, ingênua consciência dessa ínfima fração de vida onde não há espaço para a imortalidade. Quero-te aniquilada pela força que há de me auferir a ilusão de ser perene para deixar minhas pegadas nas cinzas desse apocalipse. - Rio de Janeiro, 1990.

(Do Livro Quaterno, Editora Paka-Tatu, Belém, PA, 2007)


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Minha inseparável...

Antes eu te detestava. Hoje, por uma questão de justiça, chego quase a te amar. Convivemos há tanto tempo, quase uma existência! Onde quer que eu vá, segues resolutamente meus passos como se fosses minha própria sombra: na escabrosidade das selvas, no balouçar de um navio singrando o bravio mar, no crepitar nervoso das grandes metrópoles e até mesmo nos salões engalanados ao som de uma alucinante guitarra. Mas quando volto ao meu quarto, ah!... Aí é que tua marcante presença mais me envolve e me faz adormecer, mergulhado na profunda quietude do teu silêncio, minha inseparável SOLIDÃO. 

Rio de Janeiro, 1981 (Do Livro Quaterno, Editora Paka-Tatu, Belém, PA, 2007)...................................

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